28.8.10

O despertar

@Ana



Pequenina, mal tremia as mãos, os seus pés ainda não sentiam o encanto da terra.

Apenas sabia que existia no mundo algo a que davam o nome de amor.

Lembra-se dos olhos. Os seus que se magoaram com a inesperada luz vinda de fora. Além de si, da carne que demorava a ser sua. Percebeu outros dois corpos, juntos, prolongando o fim da pele pelo toque das pernas e dos braços enquanto a seguravam. Por baixo de si um manto quente. Confortável decidiu observar. Sim, havia algo em eles.

 
Sim, haverá algo em ela…

24.8.10

É sempre um até já

@Ana



A mente acorda no ritual de todos os dias. É meia manhã quando uma garça se despede da erva fria. Sorrio pelas nossas partidas, no momento comum já passado.   

Afundo-me nas ideias que levo e trago nesta estrada. Chego ao emprego, anestesia fisíca das vontades da alma. Perco o tempo nas horas de sol. Deixo o suor ser feliz. 


Recordo que amanhã é dia de viagem. Dia de dar início...

Hoje ensaio. 
Amanhã, na tela nova escrevo: até já...

19.8.10

Partida


@Ana


Vem dizer-me que o corpo é um refúgio
onde a terra se esquece de nascer.

Vem chamar o mundo pelas unhas pintadas de céu

Vem fingir que caminhamos lado a lado,
tu fogo e eu cinza.

Vem sorrir a mentira do dia
e abraçar as feridas nos telhados.

Vem tocar na água que cai do meu rosto,
espelho da tua presença.

Vem sem ires embora.
Vem que voltas.
Vem.... e eu sou.

12.8.10

Balançar



@Ana



A tristeza  mais dolorosa é a que não chora.
Vem em silêncio morar dentro de nós.

Parece que não parte, finge persistir...

Mas...
Haverá sempre um mas.


E amanhã... Ir na vida! Forte...

Os vigilantes

@Ana


@Ana

 

As ruas estavam quietas. Lá em cima, depois dos degraus da colina, as casas amparam-se, protegem quem ainda mora nelas. 

Porta a porta, apercebi-me dos segredos que ali resistem. Nos quintais emergentes de plantas, o labor do mar vive em sossego. Os homens de sempre deixam as redes no cais e dão-se à conversa. Esquecem os sinais do tempo nas mãos e riem com quem chega sem conhecer.

Na Calçada do Compromisso a mercearia recebe a manhã. Pela porta aberta a luz acaricia a fruta e os pés da Dª Maria, sentada no banquinho de madeira imaginando os fregueses. Entro, compro pêssegos para o caminho. 

Compreendo então a presença. Os vigilantes, cada um em seu trono, guardando o bem em Ferragudo.
O bem ou o bom... Sorri para eles, mas eles sabem que eu sou de fora. Continuo, sem magoar a sua casa, como quem passa ao de leve, em assobio no ar. 


Voltarei... Assim, de novo, numa manhã de vagar.
  

8.8.10

Hoje é para ti

@Ana


Foi um dia longo, sentido até ao fim, tomando instantes pela alma dentro.
No carro segui  a luz nas ervas e o ar fresco que remexia os cabelos, a ir pelo caminho repetido dos dias e a ver sua revelação, o véu azul onde uma linha branca viaja, a canção em suspiro nos lábios.  

À tarde ser rio pelo corpo, levar a sombra ao chão, desejar ter voz para afirmar a alegria. 
O sol espreitava mais baixo enquanto as andorinhas rasgavam os raios em direcção a casa.  


Meu poente do outro lado, voam folhas com rabiscos de saudade até às tuas coordenadas.

Seguidores