16.2.11

Malam, o poeta da aldeia


@Ana



- Abo!
Desloco a cabeça para os lados tentando descobrir se está alguém ao redor.
- Abo! Ê cumá?
Não, é mesmo comigo.

Malam, na elegância de um sorriso aberto e com reduzido número de dentes, dirige-se a mim confiante. Estende o braço do seu traje colorido e dispara frases em crioulo. Pergunta e responde sem se preocupar com o meu silêncio. Coloca a mão no meu ombro e, como que abre a cortina do teatro, começa a contar-me num português precário a sua terra.

Fala das cabras e do seu andar de domingo na rua, entre os restos de plástico e as cascas de fruta. Aponta as crianças que riem alto e brincam, apesar dos pés nus no asfalto. Oh, e como se delicia a olhar as mulheres, deusas em desfile enquanto o corpo sucumbe pelo filho colado às costas e a saca de arroz à cabeça.

Desligo-me da paisagem por um instante. Suspensa em Malam, o poeta improvisado da aldeia africana, berço da iliteracia, que ilumina o caminho e, talvez, um pouco do seu país.

Compreendo e aprendo a ir com ele.
Repito: Nô bai! E vou.

9.2.11

O regresso


@Ana



Quase que o via da minha janela. O regresso.

Antecipando a estrada que tantas vezes fiz desenhei no horizonte o corpo, as curvas negras daquela terra que pelo tempo me foi conhecendo.

Ao toque dos grãos de areia nas pernas a doce sonolência do sol escorregava nas minhas costas. E o som de um menino a comer suspirado por uma brisa.

Era noite. Era agora. Cheguei.

Seguidores