24.11.10

Norte nos pés

@Ana


Ali, latitude fria o mundo sussura.
Quase não se ouve, é suave e delicado, como os prados em que adormece a lavoura.
Ali não chegou a cacafonia virtual nem a mente poluída. Não existe ansiedade pela febre do amanhã.

Não se compete. Não se ignora. Não se destrói.


Os dias acordam iguais vestidos de cinzento e humidade. A água da noite ficou suspensa nos ramos das macieiras, já nuas, resistindo à estação que só agora começou. Aguardam quem lhes leve os filhos vermelhos para que o vento não lhos tire e os devolva à terra mãe. Mais adiante os abetos murcham, roubou-lhes o céu o sol e as visitas que recebem são poucas. Lá paramos e conversamos com um deles. Conta-nos do tempo onde a noite quase não chega, quando os esquilos se juntam para o baile da madrugada e os pássaros voltam ao prado no descanso das viagens. A melancolia respira debaixo dos nossos pés, em castanho e amarelo. Vagueamos sem rumo saboreando. Parece que a natureza bate as palmas à sua própria peça.


Pergunto-me se o paraíso fica perto... Se assim se escreve o sonho esquecido da humanidade... 
Admiro. Continuo, porque ainda não há lugar que seja o meu lugar. Fico na corda da poesia, no segredo que a vida me vai revelando em migalhas, na mão quente que a meu lado caminha. 

A Norte voltaremos.  

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